terça-feira, 14 de setembro de 2010

Exaltação da Santa Cruz


No dia 14 deste mês, a Igreja celebra a festa litúrgica da Exaltação da Santa Cruz. Como a da Transfiguração, também essa festa é intensamente celebrada na Igreja Oriental e participa da mesma atmosfera: a presença da glória divina no sofrimento e morte de Jesus. A liturgia renovada deu a essas festas um destaque especial, tendo em vista a comunhão com as Igrejas Orientais.

A festa da Exaltação da Santa Cruz tem origem no século 4º, em 13 de setembro de 335, quando se celebrou a Dedicação das basílicas do Gólgota e do Santo Sepulcro, construídas pelo imperador Constantino; no dia seguinte, foram apresentados fragmentos da Cruz em que Jesus foi crucificado. A festa foi trazida para o Ocidente, no século 7º, pelo Papa Sisto I.

Em nossa diocese, Santa Cruz é festejada como padroeira de uma paróquia em Rio Claro, de uma paróquia em Piracicaba (que tem São Dimas como copadroeiro) e de uma quase-paróquia no bairro rural de Anhumas, também em Piracicaba.

Festa do Cristo vencedor

Na festa litúrgica da Exaltação da Santa Cruz, celebra-se a exaltação do Cristo vencedor. Também se exalta a salvação que nos vem pela cruz; nela Jesus Cristo, verdadeiro Deus verdadeiro homem, fez a entrega da sua vida pela vida do mundo. O Cristo Crucificado, pela sua morte e ressurreição, trouxe-nos vida e salvação.

“Quanto mais abraçamos a Cruz, mais nos aproximamos de Jesus que está cravado nela.” (Bem-aventurado Charles de Foucauld)

A celebração litúrgica quer reavivar em nós o amor pela cruz. E o evangelho dessa festa (Jo 3, 13-17) nos revela a razão dessa devoção: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado (na cruz) o Filho do Homem, para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna. Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.”

O fio central da liturgia é o simbolismo da elevação na cruz como elevação na glória, desenvolvido por São João no evangelho. Na sua crucificação, levantado ao alto, Jesus é sinal da salvação realizada pelo amor de Deus, como a serpente de bronze levantada por Moisés no deserto foi sinal de salvação para o povo (1ª leitura). Por isso, contemplamos a cruz de Cristo, “da qual pendeu a salvação do mundo”. E, professando nossa fé, bendizemos ao Senhor que “pela Santa Cruz remiu o mundo”.

Sinal de vida e salvação

“A cruz, antes de ser sinal de sofrimento e de morte, é sinal de salvação. A celebração nos ensina a olhá-la como manifestação do amor de Deus. Por seu amor e ternura radical, Ele, assim como uma mãe ou um pai, não gosta de ver seus filhos sofrendo. E não pode ser visto como mandante do assassinato do próprio Filho. Jesus morreu em consequência de sua fidelidade ao Pai. Foi vítima das autoridades da época, que o consideravam perigoso. De fato, a cruz era o suplício dos escravos e dos subversivos.” (Padre Nilo Luza, SSP)

A cruz é o maior símbolo de nossa fé, é o estandarte sobre o qual se eleva e se exibe ao mundo o amor de Deus. Ela atrai o olhar de todos que procuram a salvação. Ela atrai os olhares de toda a humanidade, como se proclama na Liturgia Eucarística dessa festa: “Santa Cruz adorável, de onde a vida brotou, nós por ti redimidos te cantamos louvor.”

A cruz nos fala de um amor sem medida, capaz de ir até o fim: “Como amou os seus que estavam neste mundo, amou-os até o fim”. Este amor até o fim está bem retratado nas palavras do Apóstolo Paulo: “Jesus Cristo tinha a condição divina e não se apegou à sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, apresentando-se como simples homem, humilhou a si mesmo e foi obediente até a morte e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou!” (Fl 2, 2-6)

Pela cruz à ressurreição

“Todas as ações de Cristo são glória da Igreja Católica, mas a glória das glórias é a Cruz do Senhor.” (São Cirilo de Jerusalém)

Depois que Jesus Cristo morreu na cruz, ela se tornou sinal de vida e não mais de morte, sinal de salvação e não de castigo ignominioso. Ela passou a ser sinal de exaltação e de glória, tornou-se sinal de vitória e não de derrota.

“Quando eu for levantado na cruz, atrairei tudo a mim.” Foi por amor que Ele foi levantado na cruz: “Prova de amor maior não há que doar a vida.” Esse amor é que nos atrai. A cruz nos mostra, mediante a fé, até onde vai o amor de Cristo. Foi elevado na cruz para que ninguém ficasse sem vê-lo. E vendo-o nos deixasse fortemente atraídos por ele.

Não podemos falar da morte de Jesus Cristo na cruz e esquecer a ressurreição. São Paulo, escrevendo aos cristãos de Corinto, falou de um modo taxativo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1 Cor 15, 14)

Ao ressuscitar dos mortos, Jesus Cristo sepultou para sempre o nosso pecado e abriu a porta para a vida nova. Ele ressuscitou e nos ressuscitou com Ele, por isso o apóstolo nos adverte: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita do Pai; afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra.” (Cl 3, 1-2)

Pela cruz à luz

Na cerimônia batismal, quando fomos apresentados à comunidade, fomos marcados com o sinal da cruz. Todas as celebrações se iniciam e terminam com esse sinal. E todos os dias, desde o momento que levantamos até a hora do repouso, são várias as ocasiões em que nos persignamos, traçando em nós o sinal da cruz redentora de Jesus.

Depois que Jesus Cristo morreu na cruz, ela passou a ser uma exigência para quem deseja tornar-se seu discípulo. O cristão vive de fé e na fé; é com fé que acolhe a Palavra do próprio Cristo: “Deus amou de tal forma o mundo que entregou seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3, 16) Na expressão de São Bernardo, “pela cruz é que se alcança a luz”.

Na Liturgia das Horas, a Igreja reza: “Santa Cruz adorável, de onde a vida brotou, nós por ti redimidos te cantamos louvor.” Nós louvamos e bendizemos a Jesus, porque pela sua santa cruz nos libertou da escravidão do pecado e nos tornou irmãos e filhos do seu Pai.

A cruz está presente em nossas vidas. Em nossas igrejas, em muitos lares e prédios públicos, ela se destaca como ícone sagrado de nossa fé. E são muitos os cristãos que fazem questão de carregar um crucifixo, pois, como ensina São Paulo, “não pretendo jamais gloriar-me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gl 6, 14)

Nenhum comentário:

Postar um comentário