terça-feira, 7 de dezembro de 2010

8 de dezembro: Igreja celebra a Imaculada Conceição


No dia 8 de dezembro, a Igreja celebra a solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Essa festa celebra a fé de que Maria não conheceu o pecado original, para que fosse digna mãe do Filho de Deus.

Para ser a mãe de Cristo, Deus escolheu uma mulher santa e pura, cheia de graça. Por isso, como afirma o Concílio Vaticano II, na constituição “Lumen gentium”, Maria, “desde o primeiro instante de sua existência, é enriquecida com uma santidade surpreendente, absolutamente única” (LG, 56).

É esse o mistério que celebramos no dia 8 de dezembro: para ser digna Mãe do Verbo, Deus preservou Maria do pecado original e a fez cheia de graça, a fez imaculada desde sua concepção.

Essa verdade de fé foi proclamada pelo Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1.854, através da bula “Ineffabilis Deus” que, no número 42, declara: "Pela inspiração do Espírito Santo Paráclito, para honra da santa e indivisa Trindade, para glória e adorno da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica e para a propagação da religião católica, com a autoridade de Jesus Cristo, Senhor nosso, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e nossa, declaramos, promulgamos e definimos que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, foi preservada de toda mancha de pecado original, por singular graça e privilégio do Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador dos homens, e que esta doutrina está contida na Revelação Divina, devendo, portanto, ser crida firme e para sempre por todos os fiéis."

Maria foi também redimida pela graça de Cristo, como todo ser humano. Entretanto o modo pelo qual Maria foi redimida é todo especial, porque Deus a preservou de contrair a mancha do pecado original desde o primeiro instante de sua concepção. Deus a redimiu em vista dos méritos de Cristo. É o que expressa o Concílio Vaticano II com estas palavras: “Em vista dos méritos de seu Filho foi redimida de um modo mais sublime” (LG, 52).

A origem da devoção e do dogma

A convicção da pureza completa da Mãe de Deus foi definida em 1854, mas antes disso a devoção popular à Imaculada Conceição de Maria já era grande.

A origem do dogma da Imaculada encontra-se presente em escritos cristãos dos primeiros séculos, como evangelhos apócrifos. A doutrina da santidade original de Nossa Senhora se firmou inicialmente no Oriente, por volta do século VI ou VII, daí passou para o Ocidente. A festa é conhecida já no século VIII.

Os estudos e discussões teológicas avançaram através dos tempos sem um consenso. Quem resolveu a questão foi um frade franciscano escocês e grande doutor em teologia, o bem-aventurado John Duns Scot (1266-1308). Na linha de pensamento de São Francisco de Assis, ele defendeu a concepção imaculada de Maria como início do projeto central de Deus: o nascimento do seu Filho feito homem para a redenção da humanidade.

Desde 1263, a Ordem Franciscana celebrou com muita solenidade a Imaculada Conceição, no dia 8 de dezembro de cada ano, e costumava celebrar a Missa em sua honra aos sábados. Em 1476, o Papa Xisto IV colocou a festa no calendário litúrgico da Igreja. Em 1484, Santa Beatriz da Silva, filha de pais portugueses, fundou uma ordem contemplativa de mulheres, conhecidas como Irmãs Concepcionistas, para venerar especialmente e difundir o privilégio mariano da Imaculada Conceição.

Maria também foi remida por Cristo

Muitos Padres e Doutores da Igreja, ao exaltar a grandeza de Maria, chamavam-na de “intemerata, toda bela e formosa, a cheia de graça, o lírio da inocência, a mais pura que os anjos, mais esplendorosa do que o sol.”

Na Igreja do Ocidente, embora Maria sempre tenha sido exaltada como a mais sublime de todas as criaturas, a doutrina da Imaculada Conceição encontrava certa resistência. Apesar da sua reconhecida devoção a Nossa Senhora, homens como São Bernardo, Santo Alberto Magno, São Boaventura e São Tomás de Aquino tiveram dificuldade em admitir a concepção imaculada. Para eles, era difícil conciliar o privilégio de Maria com a doutrina da universalidade da redenção. Proclamar a imaculada concepção parecia retirar a Virgem Maria da órbita da redenção em Jesus Cristo, a qual, por ser necessária e absoluta, era tão universal como o pecado original. Se a Virgem Maria não estivesse incluída no número dos que contraíam o pecado de Adão, ficava então igualmente excluída da redenção, e esta não seria universal, pois não abrangeria todos os descendentes de Adão. Perante essa alternativa, foram como que obrigados a negar o privilégio de Maria até ser possível conciliá-lo com o dogma da universalidade da redenção em Cristo.

No século XIII o tema provocou acaloradas discussões, envolvendo Santo Tomás de Aquino que não aceitava esse privilégio mariano, baseando-se na universalidade do pecado e da redenção, e o brilhante teólogo franciscano Duns Scot que elaborou a chave teológica de compreensão do dogma. O teólogo franciscano, partindo da filosofia de Aristóteles que afirmava que “só de um ser perfeito pode surgir outro perfeito”, defendia que o Filho de Deus só podia nascer de uma mulher perfeita.

Para Duns Scot, Maria também foi redimida por Cristo como todas as pessoas, mas com o privilégio de ser preservada do pecado original, em previsão dos méritos do Redentor que lhe são aplicados também. Para a onipotência divina isso era possível e conveniente, por isso Maria foi preservada do pecado original, pois ela era destinada a ser a mãe do Filho de Deus.

Essa explicação acabou por ser recebida na teologia e nas declarações do Magistério da Igreja. E foi esse argumento que serviu de caminho para a proclamação do dogma séculos mais tarde.

Fundamento da santidade de Maria

Em 1854, o Papa Pio IX proclamou o dogma da Imaculada Conceição. E quatro anos mais tarde, em 1.858, Nossa Senhora confirmava essa verdade. Aparecendo a Bernadete Soubirous, na gruta de Massabielle, na cidade francesa de Lurdes, apresentou-se: “Eu sou a Imaculada Conceição”.

A proclamação do dogma só veio confirmar a fé que já se vivia. No século 18, Santo Afonso de Ligório, em seu livro “Glórias de Maria”, resume assim o grande mistério: “Nenhum outro filho podia escolher sua mãe. Mas, se a algum deles fosse dada tal escolha, qual seria aquele que, podendo tê-la nobre, a quisesse vil? Ou, podendo tê-la amiga, a quisesse inimiga de Deus? Ora, o Filho de Deus, e ele tão somente, pôde escolher para si a mãe de seu agrado. Por conseguinte, deve-se ter por certo que a escolheu tal como convinha a um Deus. Mas a um Deus puríssimo convinha uma Mãe isenta de toda culpa.”

O fundamento de toda sua santidade reside na sua missão: ela foi escolhida para trazer Jesus ao mundo, para ser a Mãe de Deus. Por isso, em previsão dos méritos de Jesus Cristo, Deus modelou Maria toda bela e santa. Como afirma Santa Teresinha do Menino Jesus, “Deus agiu com Maria como um pai, que não apenas levanta a filha que tropeçou numa pedra e caiu, mas correu na frente e retirou a pedra para que ela não caísse”.

A maternidade divina é o fundamento de toda a santidade de Maria. Convinha que ela possuísse toda a santidade possível a uma criatura, sendo imaculada, cheia de graça e do favor de Deus desde o primeiro instante de vida no ventre de sua mãe. “A Imaculada Conceição nos apresenta a face do homem redimido, em que se refaz mais misteriosamente ainda o projeto do paraíso.” (Documento 26 da CNBB)

Essa verdade de fé não é apenas mariológica, “mas também eclesiológica e escatológica, no sentido de que Maria antecipa, assim, o estado de inocência ao qual todos somos chamados. “ (Padre Johan Konings, SJ)

“Maria, com vistas à maternidade divina e por antecipação da libertação por Cristo, foi concebida e nasceu sem ser contaminada pelo pecado da humanidade, o pecado original. Ela é a primeira em quem se realizou totalmente a libertação. Será que ela poderia ter recusado ser a mãe do Salvador? Poderia. O mérito de Maria consiste em ter dado livremente seu ‘sim’ à graça de Deus e à sua missão de ser mãe do Salvador. Então, ela não era predestinada para isso? Era, sim. Mas não forçada! Poderia ter recusado sua (pré-)destinação. A predestinação da graça, que fez com que ela nascesse livre do pecado original, era o projeto da parte de Deus. Mas ela não foi forçada a aceitar este projeto. Também Adão não tinha pecado original, mas ele não foi fiel ao projeto de Deus. Maria, sim. Corrigiu a desistência de Adão. Assumiu de mão cheia o original projeto de Deus, aquilo que Deus predestinou para ela e para todos.” (idem)

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